digo para onde acho que devemos ir, você me responde que já sabe. é claro. soube quando pôs suas mãos sobre meus ombros e seus olhos castanhos fitaram os meus. vendo por mim você viu a si e soube, naquele instante, o caminho.


uma manhã de preguiça e a gente não tem hora
sua presença na cama faz meu coração bater leve, seguro
e consigo fazer nada, somente ouço o barulho da chuva que cai
num outro lugar, você veste as cores do céu 
eu falo de girassóis gigantes, maiores que homens
você me leva pela mão, você me faz íntimo seu
contando cada história sua, cada coisa que você diz
me faz sentir como se agora eu soubesse tudo
e paradoxalmente quanto mais eu sei do que a vida é
do que a vida pode ser
parece que mais distante eu fico 
de estar completo
eu sozinho, eu já não sei de nada 
eu digo baixinho coisas de amor 
como quem espalha sementes ao vento
na esperança de que floresça um recomeço.


estou num barquinho a vela, sou somente eu no meio do oceano sob dias e dias de céu azul de um verão que apesar de familiar eu não posso tocar, é só saudades, sou só eu, como o protagonista do livro da Ursula Le Guin, e quando chega a noite eu me enrolo em um cobertor, ponho os fones de ouvido tocando um programa de rádio português que tenho gravado e, enquanto o sono me leva, não consigo distinguir o que é poesia dos apresentadores e o que é apenas sonho meu.


foi que nem estar na varanda, aquela mesma varanda das noites infinitas, e sentir um vento que diz à pele das canelas descobertas que o verão acabou. a gente soube na hora.

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